segunda-feira, 12 de julho de 2010

Sobre sentimentos e relações

     
       “Sabe quando a gente acorda um dia apaixonada por alguém?” Me disse uma amiga. Parei pra pensar, e isso acontece, ou acontecia, muito comigo. De repente tudo aquilo que alguém fez, falou, ganha uma carga afetiva diferente. De repente tudo muda. Vem de forma meio inexplicável, simplesmente a relação ganha outro sentido, faz todo sentido, ou, sentido nenhum. E daí, se prepare para uma montanha russa de sentimentos. Borboletinhas pelo corpo de todas as cores. A imagem que fazia parte do plano de fundo ganha destaque como ícone principal. É vontade louca de estar perto, às vezes só de ver, de saber o que o outro pensa, de querer que seja recíproco. Me desculpe, mas eu sou intensa. Vem junto da euforia o medo, o nervosismo, as expectativas. Delícia quando elas são correspondidas. O problema é: nem sempre as expectativas ganham a resposta desejada. Deve ser por isso que enjôo muito rápido das pessoas, crio muitas expectativas. As pessoas são cansativas, pois nunca são exatamente o que queríamos que fossem. Precisamos então sempre fazer um trabalho de aceitação, de aprender a ceder, ser mais flexíveis. Tornar-se flexível quando se é rígido, dói. Tem que ir dobrando, dobrando, forçando as arestas duras, até ficar mais maleável. É trabalhoso, mas é recompensador. A maioria dos meus grandes amigos, saberão eles agora, já me irritaram ou enjoaram em algum momento. Transformaram-se em grandes amigos porque conseguiram passar dessa fase de enjôo, quebra de expectativas, inicial. São grandes amigos, claro, antes de tudo, porque sintonizam bem comigo. Acho que quanto maior a sintonia, maior a expectativa para que ela aumente.
       O que fazer quando se precisa conviver com alguém que destoa de ti em muitos sentidos? Quando é, por exemplo, alguém de sua família: pai, mãe, irmão. Muitas vezes foi tentado um equilíbrio entre essas notas dissonantes, mas que não foi conseguido. Espera-se que as relações familiares sejam harmoniosas, mas pode acontecer de haver um choque de gigantes tão intenso, que seja difícil manter o bom relacionamento. Para piorar, há pessoas que não conseguem se manter ouvintes verdadeiras num diálogo, não estão dispostas a dobrar-se junto com o outro para haver melhor encaixe. O que fazer? Se alguém souber, me diga. Conversar não adiantou, a política de confronto também não. A solução que consigo vislumbrar é anular-se neste encontro. É difícil anular certos comportamentos, eles podem estar ligados estreitamente aos alicerces que constituem o eu. “Até cortar os próprios defeitos é perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.” - Clarice Lispector. Acho, no entanto, que às vezes é preciso se matar um pouco para não morrer. Segurar a respiração quando o ambiente é mau cheiroso (embora deixar de respirar seja fatal), enquanto caminha, para logo depois respirar livremente.

6 comentários:

Unknown disse...

Gostei... E o mais interessante nisso tudo é que a vida é completamente vivida dessa maneira. Quando se namora se passa por isso. Quando está só em casa algum vizinho bate a porta pra falar de algo. Quando está conversando com amigos de trabalho... Enfim. A vida é um eterno convívio. Infelizente não podemos tirar férias da vida.

Jubs disse...

O mais engraçado é a gente se perguntando o porque! Porque quando estamos com uma pessoa especial tudo se torna especial? Porque quando é "aquela" pessoa, vira "aquele" beijo, "aquela" noite...

Estranho isso Oo

Verônica disse...

Amei! Me deixou sem saber o que dizer! Voce disse várias coisas que eu penso. Eu tenho essa sensação de enjoar das pessoas, mas sabe que nunca soube o motivo de fato. Mas faz todo o sentido, eu devo enjoar porque esperei demais delas e confesso que isso eu faço bastante. Tenho muitas expectativas quanto ao que as pessoas vão fazer por mim, e sempre saiu frustrada. Percebi que não devemos esperar demais das pessoas...e isso assusta! E quanto ao amor que surge assim de uma hora pra outra, é estranho...mas faz parte! É a vida!rs Esta de parabéns doidinha! Está se superando!
Bjss

Yasmim disse...

Acho interessante que cada um comentou mais sobre um ponto do texto. Beto falou da dificuldade da convivência (porque sei de sua vida, e ela é bem permeada por isso), Jubs falou do relacionamento amoroso (por que será, hein, Jubs?), e Vê falou do enjôo das pessoas (porque sente o mesmo).

Rafael Luz disse...

Fiquei encantado. Belo texto. :)

Yasmim disse...

Depois de um certo tempo, relendo isso o que eu escrevi, e tendo passado por algumas mudanças, compreendo que precisei me anular, mas a maior mudança do outro veio quando eu me modifiquei.

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