terça-feira, 27 de abril de 2010

Viktor E. Frankl - Em Busca de Sentido

         Do psiquiatra que criou a "logoterapia" (que explora a busca pelo sentido existencial), e que passou pelos sofrimentos terríveis dos campos de concentração.


"Edith Weisskopf-Joelson, que em vida foi professora de Psicologia na Universidade da Georgia, afirmou em seu artigo sobre logoterapia que 'nossa atual filosofia de higiene mental acentua a idéia de que as pessoas deveriam ser felizes, que infelicidade é sintoma de desajuste. Esse sistema de valores poderia ser responsável pela circunstância de o fardo da infelicidade inevitável ser acrescido da infelicidade pelo fato de a pessoa ser infeliz.'"

"a pessoa que enfrenta ativamente os problemas da vida é como o homem que, dia após dia, vai destacando cada folha do seu calendário e cuidadosamente a guarda junto às precedentes, tendo primeiro feito no verso alguns apontamentos referentes ao dia que passou. É com orgulho e alegria que ele pode pensar em toda a riqueza contida nestas anotações, em toda a vida que ele já viveu em plenitude. Que lhe importa que está ficando velho? Terá ele alguma razão para ficar invejando os jovens que vê, ou de cair em nostalgia por ter perdido a juventude? Que motivos terá ele para invejar uma pessoa jovem? Pelas possibilidades que estão à frente do jovem, do futuro que o espera? 'Eu agradeço', é o que ele vai pensar. 'Em vez de possibilidades, realidades é o que tenho no meu passado, não apenas a realidade do trabalho realizado e do amor vivido, mas também a realidade dos sofrimentos suportados com bravura. Esses sofrimentos são até mesmo as coisas das quais me orgulho mais, embora não sejam coisas que possam causar inveja.'"

"No campo de concentração, por exemplo, nesse laboratório vivo e campo de testes que foi, observamos e testemunhamos alguns dos nossos companheiros se portarem como porcos, ao passo que outros agiram como se fossem santos. A pessoa humana tem dentro de si ambas as potencialidades; qual será concretizada, depende de decisões e não de condições."

"Nossa geração é realista porque chegamos a conhecer o ser humano como ele de fato é."

"'Como é possível dizer sim à vida apesar de tudo isso?' Como, para colocar a questão de outra forma, pode a vida conservar o seu sentido potencial apesar dos seus aspectos trágicos? No final das contas, 'dizer sim à vida apesar de tudo' (...), pressupõe que a vida, potencialmente, tem um sentido em quaisquer circunstâncias, mesmo nas mais miseráveis."

"o ser humano está pronto até a sofrer, sob a condição, é claro, de que o seu sofrimento tenha um sentido."

"Na nossa maneira de ver, o ser humano não é alguém em busca da felicidade, mas sim alguém em busca de uma razão para ser feliz."

"Quanto à origem do sentimento da falta de sentido, pode-se dizer, ainda que de maneira muito simplificadora, que as pessoas têm o suficiente com o que viver, mas não têm nada por que viver; têm os meios, mas não tem sentido. Sem dúvida, alguns não têm nem mesmo os meios."

"Semanas, meses, anos mais tarde, dizem-me eles, descobriram que havia uma solução para seus problemas, uma resposta a sua pergunta, um sentido para suas vidas. 'Mesmo que as chances de que as coisas melhorassem seja apenas uma em mil', continua minha explicação, 'quem pode garantir que no seu caso isso não acontecerá, mais cedo ou mais tarde? Mas em primeiro lugar você tem que viver para enxergar o dia em que isto pode acontecer, precisa sobreviver para ver nascer aquele dia, e, de agora em diante, a responsabilidade da sobrevivência não o deixará mais."

"Mas realmente superior é o saber como sofrer, quando se faz necessário."

"Explicar totalmente o crime de alguém seria o mesmo que eliminar sua culpa e vê-lo não como uma pessoa humana livre e responsável, mas como uma máquina a ser consertada."

"Porque o mundo está numa situação ruim. Porém, tudo vai piorar ainda mais se cada um de nós não fizer o melhor que puder."



sábado, 24 de abril de 2010

Universo Moral de Jovens Internos da Febem - Noguchi e La Taille


"Não parece faltar-lhes disciplina, portanto. Mas tal disciplina incide sobre regras que eles mesmos instituíram. Ora, o que os educadores desejariam é que obedecessem a outras regras, as da instituição. Para tanto, há duas formas possíveis. Uma delas é pelo exercício da força: exigir obediência mediante ameaças de sanções. A outra seria pelo exercício da autoridade, o que pressuporia que os jovens vissem, na figura dos educadores, pessoas imbuídas de alguma legitimidade para mandar. Porém, sabe-se, não é o caso. Ao contrário: não é no que chamam de 'mundão' que se encontram os valores dignos de serem respeitados (e os educadores fazem parte desse 'mundão'), mas sim no 'mundo do crime', com suas leis que possuem legitimidade aos olhos dos jovens. Em suma, parece-nos que uma prática disciplinar que realmente possa ter efeitos é impossível. Seria necessário promover, de alguma forma, relações de cooperação, que parecem ser inéditas para esses jovens, e que lhes possibilitariam pelo menos intuir novas formas de relacionamento entre as pessoas".

"É com dor psíquica que observam janelas de carros se fecharem quando chegam, que percebem os desvios que as pessoas fazem para não se aproximar deles, que notam expressões de antipatia nos olhares a eles dirigidos. Vimos nas falas de nossos sujeitos que eles dividem a sociedade em 'nós' e 'eles', e que esses "eles" refere-se às pessoas de um 'outro mundo, honesto'. Mas deve-se convir que tal oposição também é feita pelos membros desse 'mundão'. Não se trata, para os jovens da Febem, de uma vontade misteriosa e gratuita de se diferenciar das outras pessoas, mas, sim, de uma das consequências de sua exclusão. O que sobra para construir representações positivas de si senão escolher outras que as valorizadas pela sociedade em geral? Senão até, escolher aquelas que se opõem aos olhares de desprezo e humilhação. Perguntado de outra forma: como existir aos olhos da sociedade senão dando valor àquilo mesmo que os exclui dela?"

sábado, 17 de abril de 2010

Meus livros


Zygmunt Bauman - Globalização. As Consequências Humanas.


"Para alguns, 'globalização' é o que devemos fazer se quisermos ser felizes; para outros, é a causa da nossa infelicidade. Para todos, porém, "globalização" é o destino irremediável do mundo, um processo irreversível."

"Em contraste com os ausentes proprietários fundiários do início dos tempos modernos, os capitalistas e corretores imobiliários da era moderna recente, graças à mobilidade dos seus recursos agora líquidos, não enfrentam limites reais o bastante - sólidos, firmes, resistentes - que obriguem ao respeito."

"Com o tempo de comunicação implodindo e encolhendo para a insignificância do instante, o espaço e os delimitadores de espaço deixam de importar, pelo menos para aqueles cujas ações podem se mover na velocidade da mensagem eletrônica."

"a comunicação barata inunda e sufoca a memória, em vez de alimentá-la e estabilizá-la."

"Alguns podem agora mover-se para fora da localidade - qualquer localidade - quando quiserem. Outros observam, impotentes, a única localidade que habitam movendo-se sob seus pés."

"No Panóptico, alguns residentes locais selecionados observam outros moradores locais (e, antes do advento do Panóptico, habitantes locais comuns observavam os selecionados dentre eles). No Sinóptico, os habitantes locais observam os globais."

"o mundo não parece mais uma totalidade e, sim, um campo de forças dispersas e díspares, que se reúnem em pontos díficeis de prever e ganham impulso sem que ninguém saiba realmente como pará-las."

"A necessária redução do tempo é melhor alcançada se os consumidores não puderem prestar atenção ou concentrar o desejo por muito tempo em qualquer objeto; isto é, se forem  impacientes, impetuoso, indóceis e, acima de tudo, facilmente instigáveis e também se facilmente perderem o interesse. A cultura da sociedade de consumo envolve sobretudo o esquecimento, não o aprendizado."

"O tipo de cultura de que participa não é a cultura de um determinado lugar, mas a de um tempo. É a cultura do presente absoluto."

"Tanto o turista quando o vagabundo foram transformados em consumidores, mas o vagabundo é um consumidor frustrado."

"Eles quebram a norma e solapam a ordem. São uns estraga-prazeres meramente por estarem por perto, pois não lubrificam as engrenagens da sociedade de consumo, não acrescentam nada à prosperidade da economia transformada em indústria do turismo. São inúteis, no único sentido de "utilidade" em que se pode pensar numa sociedade de consumo ou de turistas. E por serem inúteis são também indesejáveis. Como indesejáveis, são naturalmente estigmatizados, viram bodes expiatórios."

"A espetaculosidade - versatilidade, severidade e disposição - das operações punitivas importa mais que sua eficácia, que de qualquer forma, dada a indiferença geral e a curta duração da memória pública, raramente é testada."

"As pessoas que cresceram numa cultura de alarmes contra ladrões tendem a ser entusiastas naturais das sentenças de prisão e de condenações cada vez mais longas. Tudo combina muito bem e restaura a lógica ao caos da existência."

Clarice Lispector - Perto do Coração Selvagem


"A liberdade que às vezes sentia. Não vinha de reflexões nítidas, mas de um estudo como feito de percepções por demais orgânicas para serem formuladas em pensamentos. Às vezes, no fundo da sensação tremulava uma ideia que lhe dava leve consciência de sua espécia e de sua cor."

"Através dessas percepções - por meio delas fazia existir alguma coisa - ela se comunicava a uma alegria suficiente em si mesma."

"Nada acontecia se ela continuava esperando o que ia acontecer."

"E de repente não compreendeu como pudera acreditar em responsabilidade, sentir aquele peso constante. Ela era livre... como tudo se simplificava às vezes..."

Clarice Lispector - A Hora da Estrela


"O definível está me cansando um pouco. Prefiro a verdade que vem no prenúncio."

"Deus é o mundo. A verdade é sempre um contato interior e inexplicável, extremamente interior e não tem uma só palavra que a signifique. Meu coração se esvaziou de todo desejo e reduz-se ao próprio último ou primeiro pulsar."

"Maz o vazio tem o valor e a semelhança do pleno. Um meio de obter é não procurar, um meio de ter é o de não pedir e somente acreditar que o silêncio que eu tenho em mim é resposta a meu - a meu mistério."

"Sim, minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite. Embora não aguente bem ouvir um assobio no escuro, e passos."

"Escrevo por não ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar pra mim na Terra dos homens. Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser."

Clarice Lispector - O Ovo e a Galinha

"Tomo o maior cuidado de não entendê-lo. Sendo impossível entendê-lo, sei que se eu o
entender é porque estou errando. Entender é a prova do erro."

Clarice Lispector - Mal Estar de um Anjo


"Não podia me dar ao luxo de pedir, lembrei-me de todas as vezes em que, por ter tido a doçura de pedir, não me deram."

Clarice Lispector - Uma Amizade Sincera


"Tínhamos apenas essa coisa que havíamos procurado sedentos até então e enfim encontrado: uma amizade sincera. Único modo, sabíamos, e com que amargor sabíamos, de sair da solidão que um espírito tem no corpo."

"Só muito depois eu ia compreender que estar também é dar."

Clarice Lispector - Perdoando Deus


"Porque eu me imaginava mais forte. Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil."

"É porque no fundo eu quero amar o que eu amaria - e não o que é. É porque ainda não sou eu mesma, e então o castigo é amar um mundo que não é ele. É também porque eu me ofendo à toa. É porque talvez eu precise que me digam com brutalidade, pois sou muito teimosa."
 
"Talvez eu me ache delicada demais apenas porque não cometi os meus crimes. Só porque contive os meus crimes, eu me acho de amor inocente. Talvez eu não possa olhar o rato enquanto não olhar sem lividez esta minha alma que é apenas contida. Talvez eu tenha que chamar de "mundo" esse meu modo de ser um pouco de tudo. Como posso amar a grandeza do mundo se não posso amar o tamanho de minha natureza?"

"Eu, que jamais me habituei a mim, estava querendo que o mundo não me escandalizasse. Porque eu, que de mim só consegui foi submeter a mim mesma, pois sou tão mais inexorável do que eu, eu estava querendo me compensar de mim mesma com uma terra menos violenta que eu."

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