sábado, 24 de julho de 2010

O Lado Quente do Ser

 O Lado Quente do Ser 
Maria Bethânia
Composição: Marina Lima - Antônio Cícero
Eu gosto de ser mulher
Sonhar arder de amor
Desde que sou uma menina
De ser feliz ou sofrer
Com quem eu faça calor
Esse querer me ilumina
E eu não quero amor nada de menos
Dispense os jogos desses mais ou menos
Pra que pequenos vícios
Se o amor são fogos que se acendem
Sem artifícios
Eu já quis ser bailarina
São coisas que não esqueço
E continuo ainda a sê-la
Minha vida me alucina
É como um filme que faço
Mas faço melhor ainda
Do que as estrelas
Então eu digo amor, chegue mais perto
E prove ao certo qual é o meu sabor
Ouça meu peito agora
Venha compor uma trilha sonora para o amor
Eu gosto de ser mulher
Que mostra mais o que sente
O lado quente do ser
Que canta mais docemente

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Sobre sentimentos e relações

     
       “Sabe quando a gente acorda um dia apaixonada por alguém?” Me disse uma amiga. Parei pra pensar, e isso acontece, ou acontecia, muito comigo. De repente tudo aquilo que alguém fez, falou, ganha uma carga afetiva diferente. De repente tudo muda. Vem de forma meio inexplicável, simplesmente a relação ganha outro sentido, faz todo sentido, ou, sentido nenhum. E daí, se prepare para uma montanha russa de sentimentos. Borboletinhas pelo corpo de todas as cores. A imagem que fazia parte do plano de fundo ganha destaque como ícone principal. É vontade louca de estar perto, às vezes só de ver, de saber o que o outro pensa, de querer que seja recíproco. Me desculpe, mas eu sou intensa. Vem junto da euforia o medo, o nervosismo, as expectativas. Delícia quando elas são correspondidas. O problema é: nem sempre as expectativas ganham a resposta desejada. Deve ser por isso que enjôo muito rápido das pessoas, crio muitas expectativas. As pessoas são cansativas, pois nunca são exatamente o que queríamos que fossem. Precisamos então sempre fazer um trabalho de aceitação, de aprender a ceder, ser mais flexíveis. Tornar-se flexível quando se é rígido, dói. Tem que ir dobrando, dobrando, forçando as arestas duras, até ficar mais maleável. É trabalhoso, mas é recompensador. A maioria dos meus grandes amigos, saberão eles agora, já me irritaram ou enjoaram em algum momento. Transformaram-se em grandes amigos porque conseguiram passar dessa fase de enjôo, quebra de expectativas, inicial. São grandes amigos, claro, antes de tudo, porque sintonizam bem comigo. Acho que quanto maior a sintonia, maior a expectativa para que ela aumente.
       O que fazer quando se precisa conviver com alguém que destoa de ti em muitos sentidos? Quando é, por exemplo, alguém de sua família: pai, mãe, irmão. Muitas vezes foi tentado um equilíbrio entre essas notas dissonantes, mas que não foi conseguido. Espera-se que as relações familiares sejam harmoniosas, mas pode acontecer de haver um choque de gigantes tão intenso, que seja difícil manter o bom relacionamento. Para piorar, há pessoas que não conseguem se manter ouvintes verdadeiras num diálogo, não estão dispostas a dobrar-se junto com o outro para haver melhor encaixe. O que fazer? Se alguém souber, me diga. Conversar não adiantou, a política de confronto também não. A solução que consigo vislumbrar é anular-se neste encontro. É difícil anular certos comportamentos, eles podem estar ligados estreitamente aos alicerces que constituem o eu. “Até cortar os próprios defeitos é perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.” - Clarice Lispector. Acho, no entanto, que às vezes é preciso se matar um pouco para não morrer. Segurar a respiração quando o ambiente é mau cheiroso (embora deixar de respirar seja fatal), enquanto caminha, para logo depois respirar livremente.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Novo Calor



Frio na barriga
Passa um arrepio
Essa espera que intriga
Meu quarto ainda vazio
Um jeito tão doce, boca tão rosa
Me dá uma sensação gostosa
É ventinho no pescoço
Mas também é furacão
Força de inverno, clima de verão
Linda, inteligente, cheia de vontade
Desejo que invade, fogo que me arde
Seu sorriso também é o meu abrigo
Mexeu comigo, mexeu comigo

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Sobre escrever



Gostei de escrever. Primeiro porque escrever é terapêutico, é um diálogo com nós mesmos, onde podemos organizar o mundaréu de vozes que ocupam a mente. Mas, apenas isto não me bastava, escrever era demasiado cansativo, já que organizar esta bagunça toda e transformar os pensamentos em um texto bom de ler dava um certo trabalho. Os comentários, no entanto, dos amigos funcionaram como reforço positivo. Percebi que o acolhimento, que sinto ao ler alguns autores foi o mesmo que senti ao me ler. Pensei, então, que posso aconchegar outras pessoas nos meus pensamentos, como Clarice Lispector, Manoel de Barros, Mario Quintana, fazem comigo. Claro que não se pode comparar a poética das palavras destes mestres às minhas, mas palavras são palavras, sentimento é sentimento, em qualquer lugar. Posso ajudar a fazer pensar, unindo meus pensamentos com os de outras pessoas. Um blog é bom pra isso, quem lê também participa e contribui comentando, se colocando.

Por que os escritores escrevem?

Adélia Prado
“Boa pergunta. É necessário que eu escreva, acho que é uma necessidade divina de mostrar a Sua face, o espírito quer ser adorado, ele quer ser visto. Deus precisa fatalmente de mostrar a Sua face e a arte é uma mediação para a divindade. Então, neste caso, tenho que ser dócil a este desejo divino. Não obedecer a isto é pecar, é um pecado capital, eu não sou dona disto, não posso falar: não vou escrever mais, isto seria o máximo do orgulho, então eu tenho que escrever.”

Millor Fernandes
“Escrevo porque escrevo, se me pagassem eu só falava”

Clarice Lispector
“Escrevo porque encontro nisso um prazer que não consigo traduzir. Não sou pretensiosa. Escrevo para mim, para que eu sinta a minha alma falando e cantando, às vezes chorando…”

“Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador. Escrever é também abençoar uma vida que não foi abençoada”

“É preciso coragem. Uma coragem danada. Muita coragem é o que eu preciso. Sinto-me tão desamparada, preciso tanto de proteção…porque parece que sou portadora de uma coisa muito pesada. Sei lá porque escrevo! Que fatalidade é esta?”

"Enquanto eu tiver perguntas e não houver respostas continuarei a escrever."

“Escrevo por ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens."

Minhas desequilibradas palavras são o luxo de meu silêncio. Escrevo por acrobáticas aéreas piruetas – escrevo por profundamente querer falar. Embora escrever só esteja me dando a grande medida do silêncio."

"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro...

Lya Luft
“Escrevo por uma lúdica paixão. Porque nasci para fazer isso. Porque me alegra, me diverte, me instiga — e me exaure. Porque tenho necessidade e prazer em elaborar com palavras esse traçado de tantas vidas, tantas criaturas, tantos destinos e aventuras que povoam minha imaginação, e que acabarão — ou não — vivendo nos meus textos. (...) Escrevo para seduzir leitores que sejam meus cúmplices na inquietação fundamental, na busca de entender o mundo — e jamais o entenderemos. E também escrevo porque desejo uma releitura dos valores familiares e sociais de meu tempo: cada um de meus romances pode e deve ser lido como uma denúncia da hipocrisia, da superficialidade, da indiferença, da negligência e da mentira nas relações humanas, amorosas, familiares e sociais. Os artistas são recipientes de carvões em brasa e têm visões que tentam esconjurar com traços, gestos, música ou palavras — e nesse trânsito entre realidade e sonho, cujas fronteiras para eles pouco importam, vão e vêm entre territórios que igualmente os convocam. Escrevo porque sou parte disso.”

Ferreira Gullar
“A resposta é a mais simples e óbvia: escrevo para me expressar”

Moacyr Scliar
“Escrevo movido por um impulso cuja natureza desconheço (e que não quero conhecer), o mesmo impulso que leva algumas pessoas a desenhar, outras a fazer música, outras a trabalhar a terra.

E, por fim:
"Somos todos escritores, só que alguns escrevem e outros não."
(José Saramago)

anúncio-texto